Saiba tudo que aconteceu no Seminário de Tecnologia Náutica – SOBENA

Pelo segundo ano consecutivo a Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (SOBENA), através do seu Comitê Permanente de Pequenas Embarcações, realizou, nos dias 21 e 22 de novembro, o Seminário de Tecnologia Náutica.

Tendo como anfitrião desta edição o Iate Clube do Rio de Janeiro, na Urca, o evento reuniu cerca de 130 participantes ao longo dos dois dias.

Esse ano o evento contou com 18 palestrantes convidados, das mais diversas áreas de atuação no segmento, distribuídos em seis painéis temáticos e, pela pluralidade dos assuntos abordados e também pela proximidade com um público voltado para a náutica, por estar dentro de um clube com maior tradição náutica no Brasil, o evento agradou tanto aos costumeiros participantes técnicos, profissionais da indústria, quanto aos entusiastas do setor, curiosos e amadores. Dessa forma, a SOBENA vai se consolidando como referência técnica também para o setor náutico, tão importante pro desenvolvimento econômico do país.

Em se tratando de desenvolvimento, inclusive, após a abertura do presidente da entidade, subiu ao palco o Sr. Jorge Cunha, Superintendente de Projetos Estruturantes do Governo do Estado do Rio de Janeiro, que prestigiou o evento para anunciar as medidas que o Governo Estadual está aprovando para incentivar o desenvolvimento do setor no Estado Fluminense. Apoiando institucionalmente o evento, o Governo do Estado do Rio de Janeiro está ainda criando um Grupo de Trabalho Técnico, que envolve representantes de diversas áreas ligadas ao setor – inclusive a SOBENA – para discutir e auxiliar na implementação de pautas que privilegiem a indústria e o mercado náutico.

Após a abertura o construtor e pesquisador Willian Peña, dono do estaleiro WP Catamarãs, subiu ao palco para abrir o primeiro painel, dedicado ao projeto de embarcações. Em sua palestra Willian abordou temas como a dificuldade de implementação de logística que apoie o projeto modular de embarcações e também os principais aspectos de um projeto de embarcação produzida para exportação.

Seguiu-se a palestra do designer Nelson Mitake que chamou a atenção para o alto padrão de embarcações e o espaço ainda a ser preenchido por modelos de embarcações de esporte e recreio que atendam a nichos específicos em todo o país. Com um olhar otimista do mercado, Mitake mostrou o potencial do segmento dos 35 pés, que ele chamou de “lancha dos brasileiros”, numa alusão à preferência do mercado nacional por este tamanho de embarcações de planeio.

Após o almoço, no painel dedicado às inovações sobretudo em embarcações de serviço, o construtor Lorenzo Souza, dono do estaleiro Holos Brasil, uma das patrocinadoras do evento, apresentou sua tecnologia de embarcações autônomas movidas a energia solar. Hoje sócio de uma empresa dedicada a essa atividade, Lorenzo Souza mostrou o potencial desse tipo de embarcação para o mercado de serviços no Brasil e deixou o público com a certeza de que pretende desenvolver maiores inovações para esse segmento nos próximos anos.

Em seguida, subiu ao palco o pesquisador baiano Marcelo Bastos, que trouxe à tona a tecnologia secular dos saveiros a vela da Baía de Todos os Santos. Bastos, que tem um projeto aprovado junto ao Ministério da Cultura para a documentação dessas embarcações, mostrou sua pesquisa que utiliza da engenharia reversa, através da técnica de fotogrametria digital, para gerar modelos tridimensionais fiéis de qualquer embarcação. Com essa técnica, pode-se extrair importantes parâmetros do casco com rapidez inigualável.

Depois foi a vez do engenheiro Alexandre Ferreira Correia, representante da BR Distribuidora, patrocinadora máster do evento, apresentar os melhores combustíveis disponíveis no mercado, já no extremo da inovação, e tirar muitas dúvidas do público presente, abordando esse tema tão técnico com uma linguagem acessível e prática. Correia mostrou como as propriedades como octanagem e cetano para gasolina e diesel marítimos, respectivamente, além de trazerem resistência à oxidação e menor formação de espuma, podem contribuir para melhores práticas de abastecimento no setor náutico.

No terceiro painel, Marcio Dottori subiu ao palco e, com sua larga experiência em testes com as mais diferentes embarcações ao longo de sua carreira, propôs dicas de projeto valiosas para todos os projetistas de lanchas, entusiastas do assunto e donos de embarcação, que puderam ver de perto detalhes de forma e sistema apresentados pelo palestrante tão úteis tanto para novos projetos quanto para os processos de compra e venda. Dottori chamou a atenção para as expectativas principais de quem quer adquirir uma lancha e as diferenças de forma para cada objetivo, cobrindo, em poucos minutos, um amplo espectro do projeto de lanchas.

Finalizando as apresentações do primeiro dia do evento, subiu ao palco o Sr. Roberto Geyer, velejador e construtor naval amador. Geyer dividiu sua experiência de construção de três barcos em madeira e de sua história de vela e de manutenção de seu veleiro Cairu III, hoje com 58 anos, que ainda corre regatas, um exemplo de longevidade de uma embarcação. O público viu ao vivo a experiência de quem aprendeu com os livros a gostar de construção amadora e ainda se sentiu motivado por Geyer a iniciar a construção de um Dinghy 12 pés que, segundo o palestrante, tem muito potencial de se tornar classe no país através da sua popularização entre novos construtores amadores.

No último dia de programação do Segundo Seminário de Tecnologia Náutica, participaram mais de dez palestrantes, divididos em três painéis e uma mesa redonda.

No quarto painel do evento, que tratou de motores e sistemas eletrônicos em embarcações de pequeno porte, dividiram o palco duas empresas, a Orange Composites, de Thomaz Benatti, e a Fuse Sistemas, de Leandro Freire. Numa apresentação sobre manutenção de embarcações, Thomaz abordou os aspectos da manutenção do casco de embarcações, sobretudo as de fibra de longa idade, enquanto Leandro mostrou como a normatização é importante para conduzir serviços de manutenção elétrica a bordo. Ambas as empresas recém-chegadas ao mercado mostraram que a manutenção é uma realidade e que deve ser desenvolvida a sério para garantir a segurança a bordo.

A palestra do patrocinador prata SOTREQ, representante dos motores Caterpillar no Brasil, contou com a apresentação do Sr. Eduardo Magno que mostrou aspectos importantes da seleção correta de motores para embarcações de pequeno porte. Focando nas propriedades de motores Caterpillar representados no Brasil, Magno mostrou como a seleção pode impactar na eficiência e na determinação da vida útil de cada motor, chamando atenção para o objetivo de cada máquina e seu range de operação.

Após o intervalo do almoço, subiu ao palco o experiente velejador baiano Aleixo Belov para abrir o quinto painel do evento. Belov mostrou um pouco de suas viagens mais recentes e comentou sobre um vídeo que documenta a construção de seu último barco, o veleiro-escola “Fraternidade”, projetado e construído pelo próprio Belov na sede de sua empresa, em Salvador. Com uma importante inovação no sistema de rebatimento de quilha para um barco desse porte, Belov chamou a atenção dos técnicos e engenheiros presentes para os benefícios dessa instalação para suas viagens e encantou os cruseiristas presentes com sua narrativa. Belov deixou o evento distribuindo entre os participantes presentes seus mais recentes livros editados.

No painel de Materiais e Métodos de Construção, subiu ao palco o professor da COPPE UFRJ e engenheiro naval Alexandre Alho que falou da inovação que representa o uso do PEAD – Polietileno de Alta Densidade para a construção de embarcações de serviço. Alho mostrou características desse versátil material, gerando muita curiosidade no público que participou ativamente fazendo muitas perguntas ao engenheiro naval ao longo da palestra.  O palestrante mostrou ainda as diferentes formas e os limites alcançados por esse material e quais são as perspectivas de avanços nas pesquisas que usam esse tema, apontando um caminho de discussão para o próprio Comitê da SOBENA em 2019.

Jorge Nasseh, CEO da Barracuda Advanced Composites, fechou o painel, apresentando os primeiros resultados de uma de suas pesquisas inéditas em materiais e métodos de construção. Abordando os limites de acelerações em uma lancha tipo, Nasseh parametrizou valores mensuráveis e propôs uma nova perspectiva para a aplicação das conhecidas regras estruturais que lidam com essas variáveis de forma a reduzir o uso de material a bordo sem que isso comprometa a expectativa principal para a qual a embarcação foi projetada. Baseado nesse novo entendimento das solicitações sobre as embarcações, ele coloca uma luz sobre o assunto, que será desenvolvido e apresentado por ele em novas oportunidades.

No sexto painel do evento, o professor da UFSC e engenheiro civil Ricardo Aurélio proferiu uma palestra sobre os processos e controles de estaleiros de pequeno porte. Aproximando o assunto do público, o professor explorou exemplos para chamar a atenção das melhores práticas disponíveis para os estaleiros. Cobrindo itens de um planejamento para alcançar a precisão na fabricação de embarcações de compósitos, Ricardo Aurélio mostrou a importância de cada um dos requisitos que poderiam ser aproveitados por toda a indústria.

Logo após o professor Ricardo Aurélio, subiu ao palco o engenheiro naval e CEO do BRANA Luiz Felipe Guaycuru, que propôs um novo olhar sobre a madeira como material sofisticado para construção de embarcações. Sem abandonar os populares materiais compósitos ou alterar profundamente os processos de um estaleiro de compósitos, o palestrante mostrou como algumas embarcações de um estaleiro poderiam ganhar em valor agregado ao usar a madeira como material para construção, orientando o projeto para tal mudança.

Finalizando a programação, o engenheiro Paulo Moraya, moderador nesse último painel, chamou ao palco os engenheiros navais Mucio Scevola, Luz Alberto de Mattos e Fernando Boccolini, para dar continuidade ao assunto de madeiras, mas sob o foco dado desta vez às embarcações de transporte e serviço da região amazônica. Abordando incialmente os aspectos estruturais através das regras para embarcações de madeira da RBNA, os engenheiros Luiz de Mattos e Boccolini teceram uma narrativa que procurou mostrar como essas embarcações podem se beneficiar de uma normatização que contemple aspectos específicos da madeira, já o engenheiro Mucio Scevola abordou os aspectos relativos à estabilidade dessas embarcações à luz da legislação vigente e das mudanças que seriam eficazes na garantia da segurança e integridade das embarcações de pequeno e médio porte.

Ao fim dos dois dias de apresentações o evento mostrou que não apenas aumentou em tamanho, mas também em qualidade e em interesse dos participantes. Reunindo palestrantes de todo o Brasil e reunindo mais de 120 ouvintes, esta segunda edição pôde estar mais próximo do público alvo, tendo sido realizado dentro de um dos clubes com maior tradição de náutica no país, o Iate clube do Rio de Janeiro, e, a depender dos organizadores – que inclui o próprio BRANA, pode-se esperar uma terceira edição em 2019 com muitas novidades no programa, que deve ser ainda mais ampliado e trabalhado para se fortalecer como evento de referência para o setor.

Fonte – Luiz Carvalho – BRANA

Realização do Seminário – BRANA – http://www.brana.com.br